A VIDA OU A ECONOMIA?

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Entre tantos assuntos e polêmicas levantados nesses tempos de pandemia, um me chamou bastante a atenção. A pretensa dicotomia e até contraposição entre vida e economia. Entendo o contexto em que surgiu esse questionamento, sobre a importância relativa da proteção à vida comparada à proteção à economia, mas me parece que há um entendimento completamente distorcido na raiz dessa discussão. Economia é parte indissociável da vida que levamos, como seres humanos. Proteção à vida pressupõe ações econômicas.

Acho que a confusão começa no entendimento do que seja economia. Como se economia fosse apenas geração de renda, ou incentivos fiscais, ou crédito para empresas, auxílio emergencial. Não é. Decidir por exemplo quantos respiradores artificiais comprar, de quem, como transporta-los, para quais cidades envia-los, é economia, e disso depende justamente a vida de muitas pessoas.

Decisões econômicas permeiam toda a gestão de uma epidemia, ou outra catástrofe dessas proporções, e podem significar o sucesso ou fracasso do seu combate. Gerir recursos escassos em situações de necessidades quase ilimitadas e urgentes, isso é o que a economia faz. Alocar equipamentos, hospitais, profissionais da saúde, medicamentos e equipamentos de proteção de forma que o maior número de pessoas possa ser beneficiado, isso é economia. Definir quando a interrupção das atividades produtivas é necessária e de que forma proteger a população da escassez (de alimento, de educação, de trabalho) isso é economia. Definir como devem ser organizadas as prioridades, para obter o melhor resultado para a sociedade, ou o resultado menos trágico, isso é economia.
Lembrando que a finalidade da economia é a vida, a melhor vida possível.

Tatiana François Motta – Economista e empresária