Consumidos pelo consumo

145

Recentemente fotos de uma montanha de roupas usadas jogadas em um lixão no deserto do Atacama, norte do Chile, geraram uma discussão sobre os impactos ambientais da indústria da moda, e sobre o consumismo da sociedade atual *. O assunto é pertinente nesse período quando nos aproximamos das festas de final de ano, e nos deparamos com anúncios de promoções e inúmeros incentivos para consumirmos mais.

O consumo é importante, claro. São as compras que fazemos que movimentam a economia, geram emprego e renda para as famílias e motivam a indústria a criar e inovar. No mundo em que vivemos hoje, simplesmente interromper o consumo geraria uma imensa crise, com reflexos trágicos para a sociedade.

No entanto, de certa forma, estamos sendo “consumidos pelo consumo”. Numa entrevista concedida à Folha de São Paulo, o filósofo e sociólogo francês Gilles Lipovetsky disse que “todas as esferas da vida estão subjugadas à lógica do mercado”. Na entrevista ele faz uma reflexão sobre o novo consumismo, a forma como tudo em nossa vida se transformou em mercadoria. “Comprar, ir ao shopping, viajar – são as terapias modernas para depressão, tristeza, solidão. Você pode comprar terapias de desenvolvimento pessoal, um fim de semana zen, um pacote de massagens”. Ele comenta que dessa forma transformamos experiências e bem-estar em meras mercadorias.

Se não podemos eliminar completamente o consumo, sob pena de causar um colapso econômico, e ao mesmo tempo estamos gerando danos sociais e ambientais pela forma e volume do nosso consumo, cabe repensarmos nosso comportamento. Talvez seja possível encontrar um equilíbrio, como sugerem muitas iniciativas que defendem o consumo consciente, a priorização da produção local e a própria reflexão sobre nossa motivação para comprar. Qual a melhor, ou melhores estratégias para enfrentarmos esse desafio pode ser uma questão em aberto, mas uma coisa é certa – a mudança virá através de nós, os consumidores.

 

 

* (https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/10/no-chile-o-deserto-do-atacama-abriga-lixao-toxico-da-moda-descartavel-do-1-mundo.ghtml)

 

12/11/2021

Tatiana François Motta