O combate à desigualdade já é pauta da gestão pública e da sociedade civil há muito tempo. Recentemente, com o agravamento das dificuldades econômicas durante a Pandemia, o assunto voltou a ter destaque. Cada vez mais o meio empresarial, antes mais refratário a certas iniciativas governamentais, tem se posicionado a favor de projetos como renda mínima e apoio à população mais vulnerável.
Organizações inovadoras e socialmente responsáveis têm se mostrado ativas no sentido de promover boas práticas e ações que vão na direção de reduzir as desigualdades sociais e econômicas no país. Essa postura não reflete apenas a consciência social ou generosidade de um setor mais privilegiado. Revela a percepção de que a desigualdade custa muito caro e emperra o desenvolvimento do país.
Há muitas razões pelas quais uma distribuição mais equitativa de renda é desejável, mas economicamente falando, três são fundamentais. A melhor distribuição de renda impulsiona o mercado consumidor, qualifica o capital humano e melhora os índices de segurança. Cada um desses fatores é indispensável para o fortalecimento da economia do país.
A melhor distribuição de renda faz com que um contingente maior da população tenha acesso a bens e serviços, criando um mercado consumidor mais dinâmico. Na medida em que mais pessoas saem da pobreza, a base de consumidores é ampliada e diversificada e beneficia os negócios em geral. Essa ampliação tem um impacto positivo ao diluir o poder de compra, dando oportunidade para mais empresas oferecerem seus produtos e serviços.
A pobreza, a falta de perspectivas e o acesso limitado a educação e capacitação, que são consequências da concentração de renda, prejudicam o desenvolvimento do capital humano. Esse capital humano existe tanto na forma de mão de obra qualificada quanto de empreendedores capazes de trazer dinamismo à economia. A falta de recursos impede que um número significativo de pessoas consiga se qualificar para funções mais complexas, uma exigência do mercado atual. Da mesma forma, a dificuldade de acesso à capacitação e ao crédito impede potenciais empreendedores de tentar seu próprio negócio.
Além disso, quanto mais desigual econômica e socialmente é um país, maiores os índices de violência e insegurança. Um ambiente instável e perigoso gera custos desnecessários e afasta investimentos. A percepção de risco faz com que empreendedores e profissionais qualificados busquem outros lugares para aplicar seus recursos, empobrecendo o país.
Renda básica, investimento em inclusão social, suporte em saúde, educação e nutrição para populações mais vulneráveis, deixaram de ser questões humanitárias ou morais, para se tornarem preocupações econômicas. Não é possível para uma nação ter crescimento econômico sustentável sem pensar em políticas de redução de desigualdades. Se queremos um país melhor, mais próspero e seguro, é nosso dever trabalhar para que sejamos uma sociedade mais justa.
Tatiana François Motta. Economista e empresária.