Juro pra vocês que nunca percebi pobres em aeroportos muito menos nas universidades, juro.
Transitei muito em aeroportos e andei em algumas universidades e nunca vi pobres a não ser eu.
Eu sabia que na UFRGS a maior parte era a burguesia que tinha tempo e dinheiro pra se preparar praquele vestibular, sem contar que lá é o dia inteiro; não dá pra trabalhar e estudar, sacam?
Na PUC a maior parte trabalhava pra pagar a faculdade; não ligava se eram pobres e meus colegas e eu nunca nos preocupamos com isso, não é Nara Sarmento, Julio Fernandes e Victor Hugo?
Mas, agora, resolveram rotular e tachar – é com ‘ch’ mesmo, analfa – pobres e ricos, já perceberam? Pobres bons, ricos maus.
Pela nomenclatura atual devo ser rico: tenho um carro popular, quitando uma casa própria e um celular de 1,99, resultado de vinte anos de trabalho, pagando impostos, tudo direitinho.
Sob a ótica da ideologia vigente sou um burguês idiota espúrio, enriquecendo patrões insaciáveis, culpado pela exploração dos índios e um traficante de escravos. Um quase latifundiário ganancioso e desalmado; me sinto assim, é sério!
Quando sento na frente do médico lá no Hospital de Clínicas, via SUS, se me deixasse levar pelo lixo que tentam enfiar na minha cabecinha oca, veria um mercenário hipócrita e doido pra tirar meu escasso dinheiro.
Ainda bem que me resta um pouco de discernimento e consigo vê-lo como um profissional dedicado, ralando por idealismo, apenas isso. Falei idealismo, não ideologia, entenderam?
Vamos adiante, bulhufenses, rumo à Victória, dona daquele cabaré perto dos trilhos, em Unistalda.