Era uma viagem de turismo, uma das infindas alternativas existentes para escapar, pelo menos temporariamente, da intragável, fastidiosa e rotineira realidade.
Ela havia partido curioso, entusiasmado e esperançoso.
No caminho, ouviu histórias, lendas e observou fatos que, até então, lhe eram desconhecidos.
Até que, um certo dia, lhe contaram a história de um sábio que vivia tranquilo no meio da floresta e que, diariamente, compartilhava conhecimentos com as pessoas.
Assim, sem pestanejar, descobriu como chegar em tal paradeiro e para lá se foi. Quando chegou, tudo era silêncio, com exceção das copas das árvores que, embaladas pelo vento, bailavam freneticamente naquele inóspito lugar.
Um pouco adiante, ele observou a pequena tenda que lhe haviam falado, aproximou-se e, para não incomodar o silêncio, sentou-se e esperou.
Horas mais tarde, os ruídos de passos caminhando sobre folhas secas, irrompeu na taciturnidade da mata e, pouco a pouco, as pessoas iam chegando e sentando-se perto da palhoça até que, repentino como um raio, mas leve como uma brisa de primavera, o sábio apareceu, caminhou suavemente pelo meio das pessoas e sentou-se numa pedra que parecia um altar esculpido pela Mãe Natureza.
Sem introduções, começou a falar e, no âmago do seu discurso, encontravam-se ensinamentos para o dia-a-dia, para o pleno viver de cada ser humano e para a tranquilidade emocional que todos buscam.
Mas, no meio de todos aqueles ensinamentos, uma passagem acendeu uma intensa flama na percepção de nossa aventureiro quando o mestre falou
“…Na busca do aprimoramento individual, antes de qualquer coisa, devemos sempre fazer o que deve ser feito e que tenhamos a coragem de colocar todo o nosso potencial e todas as nossas habilidades na tarefa atual, naquilo que estamos fazendo neste exato momento, independentemente de qual atividade seja, isto é, se ela é o que gostaríamos de estar fazendo ou é aquilo que, por obrigação ou responsabilidade, temos que fazer,
pois quando assim agimos, estamos pavimentando a senda do amadurecimento emocional e do refinamento pessoal.
No entanto, também é importante saber o que é que realmente desejamos fazer com nossas vidas? Quais dons e talentos latentes estão sempre batendo à minha porta para serem manifestados?.
E mesmo que por um acaso ainda não saibamos o que desejamos fazer
ou ainda não estamos onde queríamos estar,
a atitude de dar o nosso melhor ao que a vida nos apresenta neste exato momento é a mais efetiva e prática jornada pessoal.
Enquanto isto, que sigamos labutando em direção àquilo que realmente desejamos fazer até que, eventualmente, com persistência e disciplina, lá nos encontraremos e, quando lá chegarmos, ao olharmos para trás teremos a oportunidade de perceber que o caminho percorrido era a melhor opção para chegar ao destino almejado.
E quando chegamos ao sonhado destino, uma fantástica mudança acontece na vida, pois aparentemente deixamos de trabalhar no que deve ser feito para fazer simplesmente aquilo que desejamos realizar e, neste ponto, não que as ações mudem, mas o que muda são as atitudes com relação as ações visto que as tarefas estão em concordância com sonhos e desejos e, portanto, deixam de ser uma obrigação para serem um diversão, ainda que a responsabilidade seja a mesma ou ainda maior e, a partir de tão venerável momento, teremos encontrado a fórmula da autossatisfação abundantemente se manifestando em nossos quotidianos.”
Depois destas palavras, o mestre seguiu compartilhando pérolas para adornar o quotidiano, no entanto, aquela passagem foi tão intensas, tão precisa e tão relevante para o aventureiro que, num elevado estado de contemplação, ele viajou pela senda de sua vida, pelos lugares onde esteve, pelas atividades que realizou, pelas chamas de sonhos que havia apagado, pela situação atual em que se encontrava e pelo desejo daquilo que ansiava por realizar durante o desconhecido tempo de vida que ainda lhe restava.
Após terminar seu loquaz discurso, da mesma repentina e gentil maneira que havia chegado, o sábio levantou-se e regressou ao isolamento de sua cabana.
No entanto, o aventureiro ainda em estado de intensa reflexão, permaneceu no mesmo lugar até muito tempo depois que as outras pessoas tivessem partido e que os sussurros dos presentes fossem substituídos pelo estimulante silêncio da floresta.
Então, impetuoso e intenso como uma estrela cadente, o aventureiro levantou-se e partiu. Mas seus passos agora possuíam um novo vigor, uma indelével certeza, uma poderosa tenacidade, pois durante suas reflexões havia decidido voltar para casa e realizar todas as atividades que, até então, estavam pendentes para que sua senda fosse em direção aos sonhos que sempre palpitaram do âmago de sua essência.
Ele havia viajado para esquecer-se. O que na verdade aconteceu, pois ao olvidar-se de tudo aquilo que não lhe era desejável, ele acabou lembrando daquilo que lhe era importante e inspirador e, ao reorientar sua senda, deixou de ser um aventureiro vagando ao léu de qualquer vento e tornou-se um peregrino impelido pela clareza e pela certeza da direção a ser trilhada e do destino a ser alcançado.
PS: Para citar este Pensamento:
Cargnin dos Santos, Tadany. O Sábio e o Aventureiro.