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MIAZUNHA

Não, não é uma namorada espanhola que tive, nada disso. Conheci Neide, Ivoneide, nos anos setenta quando fazia cursinho no Mauá, na Doutor Flores 220, num miserê que dava inveja aos mais pelados ratos de igreja, juro!

Ivoneide era a balconista-chapista-cozinheira da lancheria que eu frequentava, a Coma & Morra, na Otávio Rocha. Rolou um clima entre nós e terminamos – ou começamos – a namorar, Ivoneide e eu.

Foi um romance meio interesseiro da minha parte, pois ela me esperava ao final das aulas com um prensado de mortadela, queijo e manteiga, ótimo!

Acostumei com seu cheiro de gordura misturado com o Tabu, da Coty, sério.
Mas a Neide queria casar e eu nunca tinha pensado nisso. Minhas intenções com ela eram um prensado de mortadela e eventuais fornicações nos hotéis da Comendador Coruja, rachando a conta, claro.

Num final de tarde cheguei na Coma & Morra e fui recebido pelo dono, um gringo estúpido que me botou a correr aos gritos. A Neide estava com ele e não te aproxima mais dela, seu filhinho-de-papai fiadaputa desocupado.

Uma das primeiras decepções amorosas da minha vida, marcado para sempre.
Voltei pra pensão recordando os momentos maravilhosos que passamos e um deles foi quando almoçávamos no Spaghettlilândia, na frente da CRT, na Salgado Filho, e ela falou, olhando pras mãos espalmadas diante do rosto:

– Preciso fazer miazunha, estão um bagaço!

Até hoje não sei se ela fez as unhas, mas adorava os olhos negros e o cheiro de gordura da Neide, Ivoneide.

 

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