Fugitivos ou livres?

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Talvez, sejamos simplesmente fugitivos, pois estamos sempre tentando escapar de muitas situações que a vida nos apresenta.

Existem infindas razões para nossas fugas, mas este não é o tema deste pensamento.

No entanto, que elas existem é uma incontestável realidade que devemos observar e aceitar, pois estes escapismos nos impedem de viver toda a plenitude de uma existência.

Quantas vezes, quando a situação aperta, fugimos para o aparentemente agradável mundo de entretenimentos, bebidas e drogas?

Quantas vezes, quando somos confrontados sobre nossas atitudes ou comportamentos, adotamos uma estratégia de evasão violenta e agressiva?

Quantas vezes, quando a situação está além de nossa capacidade de entendimento ou de influência, tentamos nos afastar delas e nos abandonamos num poço de tristezas, de mágoas ou de melancolias?

Quantas vezes, mesmo cientes sobre o que devemos fazer, por covardia, por medo, por arrogância ou por ignorância, abandonamos a senda e andamos à deriva em descaminhos ilusórios e anestesiantes?

Quantas vezes, por conveniência ou necessidade de aceitação, zarpamos daquilo que deveria ser, e omitimos, mentimos ou desvirtuamos situações quotidianas?

Quantas vezes, ao nos sentirmos ameaçados pelo sistema, tal qual uma avestruz, enfiamos a cabeça embaixo do simbólico travesseiro da vida e nos desconectamos da situação que deveríamos encarar?.

Mas mesmo que estejamos frequentemente fugindo, a vida em sua irrevogável inteligência, repetidamente nos apresenta cenários para que possamos amadurecer, para nos fortalecer e para nos desenvolver. E isto tudo acontece, pois temos que enfrentar os demônios de nossas existências para que o herói emirja mais forte, mais sábio e mais humano.

Então, é preciso parar de fugir, pois somente foge quem é prisioneiro, e somente é prisioneiro aquele que sabe sobre o correto caminho, mas escolhe trilhar uma errônea senda e, como consequência, abdica da inerente liberdade do viver e se atira num calabouço árduo, desagradável e excruciante.

Em essência, o nascer e a liberdade são tão interconectados quantos o céu e a terra, mas ao contrário da natureza, como seres humanos somos brindados com o privilégio do livre-arbítrio e, este poderoso atributo, é a energia que podemos utilizar para que, em cada situação, seja ela desafiante, desagradável ou incontrolável, ao invés de fugir, de nos esconder, de tentar tapar o sol com a peneira, tenhamos a intrepidez, a lucidez e a serenidade para continuarmos impávidos na ascendente, livre, corajosa e magnânima senda existencial.