Certa feita, Demêncio Ventana, meu tio em pó – foi torrado e cremado – estava no bolicho do Olinto, na beira dos trilhos, em Conde Porto Alegre, distrito de São Borja, golpeando um trago de canha num anoitecer gelado de junho, contando e ouvindo causos de assombração com o Olinto e compadre Corvinho, já falecido, também.
Lá pelas tantas lhe roncou nas tripas, montou no zaino velho e se foram pras casas, seguidos pelo guaipeca.
Já noite fechada, quando chegou na primeira porteira, o gaudério ouviu do cachorro:
– Mas que tal esse frio, hein, Demêncio?
Assustado, deu patas ao cavalo, até a próxima porteira uns duzentos metros dali, quando o cavalo virou o pescoço e disse:
– Mas que cagaço esse cachorro fiadaputa nos deu, Demêncio velho!
Conseguiu chegar borrado, no rancho do compadre Rogaciano – légua e meia das casas – e apeou pra limpar as bombachas.
Compadre Rogaciano dormia, borracho, num catre, no galpão. Tio Demêncio se lavou, botou as bombachas cagadas no Rogaciano, vestiu as bombachas limpas dele e se foi, se foi, se foi.
Na tardinha do outro dia, voltou pra dar explicação pro compadre Rogaciano, mas só encontrou comadre Arminda, mateando, solita, na frente do rancho.
– Buenas, comadre, e o Rogaciano?
– Mas o senhor não sabe? O Rogaciano está no hospital de doente da cabeça, lá na cidade!
– Mas o que se passou com o vivente?
– O homem velho acordou de uma borracheira, madrugada passada, com as bombachas cagadas e as cuecas limpas e enlouqueceu, criatura de Deus!
Buenas pras prendas e pra peonada, seus lasquiados!