Peço desculpas aos amigos e amigas, que tem a paciência e a bondade de acompanhar minhas aventuras médico-hospitalares, durante esses quase seis meses.
Desculpas pelas derrapagens e viagens alucinadas, proporcionadas pela pílula lilás e uma infusão de brócolis, nabo, asa de morcego e dente de cobra virgem, receita de uma de minhas finadas sogras, ela trabalhava em farmácia de manipulação.
Não sei por quê, mas toda a vez que ouço falar em manipulação me lembra sacanagem, tipo manipulação peniana em seminários – eventos para coleta de sêmen – ou manipulação de idéias ou de pensamentos, enfim, manipular me parece mexer em algo que está correto, desviando para o oposto afim de favorecer quem manipula. Se pararmos para pensar, às vezes somos manipulados, outras vezes manipuladores.
Em casa com os filhos, no trabalho, no dia-a-dia como cidadão. Juro que não tem duplo sentido o que estou falando, embora só se fale na greve de hoje que espera-se, ao menos, que sirva pro Calheiros parar de debochar de nós – embora mereçamos – e se locomover pra batizados, casamentos, jogo do osso ou orgias eventuais, em seu próprio veículo, e botar a Monica Veloso a servir uísque pros bandalhos, dispensando o mordomo que ganha dezoito mil reais, pagos pelos otários que nem eu, você, o gringo da fruteira e a Tia Carmem.
E nessa efervescência de assola nosso Brasil, descubro que lá na minha querida e distante São Borja, vão colocar abaixo a casa do Português.
O Português, respeitado comerciante local, dono da Casa Portuguesa, mandou construir uma casa maravilhosa para a época – talvez metade do século passado – num estilo neoclássico, com colunas jônicas, uma bela residência onde sua família viveu quase toda a vida.
Ele, a esposa e três filhos. Duas moças e um rapaz, o Fernando, hoje diplomata, mora no exterior. As meninas não mais as vi, lembro delas muito bonitas, olhos azuis como os de sua mãe.
Mas a casa sempre chamava a atenção pela beleza e imponência, numa esquina central, deveria quedar-se eterna e não virar poeira pra dar lugar a qualquer coisa que não seja aquele solar. Não estou ao par do que acontece, definitivamente, apenas cito, como são-borjense, a lástima de não se manter em pé o monumento de uma época não muito distante. Vou aproveitar e sair pegar um sol, que hoje está generoso, depois eu volto pra contar pra vocês como foi emocionante meu almoço. Tiauzinho, amiguinhos!