“Criar, simplesmente criar”, esse era o seu desejo, tão natural quanto o ato de respirar, mas ele se encontrou com uma sociedade saturada, impregnada de dogmáticos preceitos, cheia de limitantes percepções, recheada de preconceitos, abundante em horrendos julgamentos e, consequentemente, afastada da abundância da existência, da liberdade da natureza e da multiplicidade da criação, ou seja, ele era uma planta num mundo de concreto, um rio numa estrutura de água encanada, um sol numa sociedade de efêmeras e pequenas lâmpadas.
Então, quando ele criava, as críticas e os julgamentos eram severos, beirando a crueldade, pois as pessoas podem ser muito cruéis e, nestes momentos, ele se recolhia, se retorcia e sentia sua alma lacrimejar aqueles choros abundantes e vorazes que, entre soluços e pesares, aliviam a alma de malignas e dolorosas maldições.
Depois, como uma fênix renascida de suas próprias cinzas, reforçada por suas próprias energias e reerguida por suas intrínsecas convicções, ele retornava ao que lhe era espontâneo, ao que lhe era leal, ao que lhe era benevolente, e criava, simplesmente criava, imaginava ideias, utopias, situações, poesias, artes e ilusões, naturalmente concebia suas teorias, independentemente do prenúncio de futuras tormentas, de vindouros ataques ou de pósteras dores e perdas, e o fazia assim como os pássaros que, mesmo após as intempéries destruírem seus ninhos, diligentemente reconstroem seus lares, pois lhes é essencial manifestar os talentos e as habilidades que lhe foram brindados com o nascimento por meio de uma eterna criação, simplesmente suas intrínsecas criações, pois o imaginar e o criar são naturais, assim como a vida, o céu, as montanhas, a arte e o amor.