Batalhas e Pazes Internas

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Na psique humana, a luta entre deuses e demônios é tão antiga quanto a capacidade cognitiva individual e, na harmonização das mitologias, ambos possuem tanto virtudes como vícios e, na mistura destes dois ingredientes é que, em cada mito, formam-se suas fortalezas e fraquezas.

A efêmera vitória nas batalhas mitológicas é resultante de uma estratégica associação de forças que, tanto demoníacas quanto deíficas, são necessárias. No entanto, o mais importante legado destas homéricas lutas é que, os aparentes dois lados de forças são, em essência, reflexos um do outro, apenas tomados ao seu extremo. Isto é claramente uma fiel demonstração das possibilidades existentes na dualidade, mas que, quando vistas minuciosamente, anulam-se a si mesmas por serem idênticas em natureza, apesar de opostas em aparência.

Este ponto não anula a existência da dualidade, mas revela a sutileza de sua aplicação que, quando entendida, desqualifica a necessidade das batalhas, ou as qualifica como desnecessária. Muito embora, em ambos casos, sou uma interessante diversão, como um desenhado animado o é para uma criança.

Esta analogia é de vital importância para o desenvolvimento de uma atitude saudável perante a vida, tanto no trato da pessoa para consigo mesma, assim como nos relacionamentos com os outros, pois isto nos ensina que, na maioria dos casos, as animosidades ou as discussões e as brigas não são com a outra pessoa, mas sim com um espelho interno que se reflete no outro, isto é, as batalhas externas são, em essências, fidedignas manifestações das conflitos internos que uma pessoa carrega dentro de si, mas que encontrou alguém fora para materializar seus tumultos.

Assim sendo, quando as distorções entre deuses e demônios, assim como as confusões, revoltas e guerras internas cessarem, provavelmente a pessoa terá encontrado a paz, a harmonia e a fraternidade que ela tanto deseja em sua vida.