A aposta no turismo

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Não é de hoje que São Borja aspira agregar valores à sua principal matriz produtiva, o agronegócio. É legítimo que pensemos assim, por que investimentos desse tipo são mais identificados com a nossa vocação, no lugar da indústria, por exemplo. Mas temos outro setor com enorme potencial também – o turismo -, que pode e deve receber atenções prioritárias. É a indústria sem chaminés, como se diz popularmente. Assim é que o berro do boi, os tratores e as colheitadeiras podem, perfeitamente, conviver com visitantes. Para que desfrutem de uma rica diversidade natural e cultural, deixando divisas e contribuições do seu convívio.

Já abordei esse tema aqui, entretanto o retomo, movido pelo entusiasmo da secretária municipal de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer, Caroline Aquino, e sua equipe. Há alguns meses no cargo, ela reitera metas de antecessores, mas com a determinação de agora as coisas acontecerem. Uma das primeiras ações pensadas visa tirar o adequado proveito da circulação de turistas por São Borja rumo ao Litoral. De dezembro a fevereiro, a cada temporada, 150 mil argentinos passam por aqui. Sim, passam. E é necessário que sejamos suficientemente competentes para atraí-los a que permaneçam entre nós, conhecendo o que temos e deixando seus pesos e seus dólares.

Só que a estratégia de atrair os veranistas deve resultar de uma ação compartilhada dos diversos setores e não apenas de setores isolados ou eventuais lamentações à falta de vagas nos hotéis ou restaurantes.

Ademais, esse bom resultado, uma vez obtido, é apenas temporário. E é necessário que alternativas sejam oferecidas e implementadas o ano inteiro. Como outra opção, Caroline Aquino aposta no apelo representado pela identidade dos povos missioneiros, no Brasil, Argentina e Paraguai. O sonho é montar roteiro que estabeleça inter-relação permanente entre os 30 núcleos com origem comum, nos três países. Um projeto nessa direção já começa a ser esboçado.

Alegrete, Uruguaiana e Livramento disputam o status de maior desfile tradicionalista no Estado. Enquanto isso, São Borja é presenteada com a designação de Capital dos Fandangos. De fato, temos aqui uma das melhores amostragens dessa típica tradição.

A propósito disso, está criado, na secretaria do setor, o Departamento de Cultura e Tradicionalismo. O diretor, Airton Ferrari, espera parceria efetiva com os CTGs e piquetes tradicionalistas, para ‘turbinar’ a programação nas entidades e na praça central. Já para agosto é prevista mobilização geral, com a perspectiva de, em setembro, receber mais turistas, no auge da programação.

São exemplos em processo de ação, mas o potencial é infinitamente mais amplo. São muitas as cidades que desenvolvem grandes projetos a partir de apenas um apelo turístico. Nós temos vários, e todos de amplas perspectivas.

Contemplam patrimônios materiais e imateriais, abarcando aspectos históricos, políticos, culturais, religiosos e de recursos naturais. Sejamos, mais uma vez, otimistas. Com os cursos e a visão acadêmica oferecida, o Instituto Federal Farroupilha e a Universidade Federal do Pampa hão de consolidar percepção mais plural para os próximos anos e futuras gerações. Além das entidades representativas e empreendedores do setor, também a comunidade precisa se apropriar dessa mudança cultural, fazendo do turismo um produto de transformação coletiva.