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A disparidade social, Cutuca alma e o olhar

Ponho a cara pela manhã que amanheceu ensolarada e fria, troco passos na certeza de que curtirei a brisa da manhã, olhando o sol no poente, verei o verde e os primeiros brotos dando sinais de vida aos troncos que aos poucos vão saindo de sua hibernação. Continuo. Em pleno centro vejo um atentado talvez comum, um atentado a poesia que se revela na luminosidade do nosso dia a dia. Nas cestas de lixo um jovem rapaz, de boa aparência, disputa com os cães um misero pedaço de carne e arroz esbugalhados pelas próprias mãos. Isso que está diante dos meus próprios olhos me remete a penúria dos que menos tem, dos que vagam de barriga vazia. É o rastro de quem sobrevive à cata de sobras para suprimir o terror de todos os terrores, a fome.

Tal cena nos leva a reflexão se aqui, onde a fartura pauta a maioria das mesas graças a Deus, com muita gente boa a estender a mão aos mais necessitados, imaginemos nos como é crítica a situação nas grandes cidades, onde os dramas se agigantam e respingam na violência e nos embates pela sobrevivência na certeza de que não existem mais sentimentos nem amor entre os homens robotizados pela ganancia e total perda de sensibilidade para com o seus próprios irmãos.

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