Lá fora, os pássaros em silêncio nos arames
As folhas, estão caindo das árvores
E as plantas, parecem repousar de uma exaustão invisível
Aqui dentro, a alma luta para manter-se plena
Existe conflito dentro de sua própria natureza
Uma batalha contra suas qualidades
Uma oposição à sua fonte primordial
A alma está confusa, atordoada e inquieta
Pelos apegos de seus mesquinhos desejos
Pelas indigentes dependências de seus sonhos
E pelas frágeis percepções de sua existência
Mas mesmo no meio deste confuso redemoinho
De repente, sim, não mais que de repente
Ela percebe
Ela vê
Num raio de sol que aparece no horizonte
Ela ouve
No voo de uma águia que passa sobre sua cabeça
Naquele exato momento
Ela sente
Ela sente a magia da eternidade
Dentro de um sublime segundo de sua percepção
E então, como numa tela de cinema
A Alma percebe
A efemeridade de suas paixões
A brevidade de suas ilusões
A fugacidade de suas tensões
E a temporariedade de suas percepções
E ao ver tudo isso
Os discordantes sentimentos se acalmam
Se reconciliam com a ordem natural
E se harmonizam com as majestosas sensações anímicas
Lá fora, as folhas continuam caindo
Mas aqui dentro, elas simbolizam um natural processo de desapego
Porque quando é hora de abandonar as temporárias conexões
A natureza, espontaneamente faz isto acontecer
E, mesmo que a alma ainda não entenda isso,
E ainda tema a imprevisibilidade do desconhecido
Ao se apegar à impermanência do aparentemente conhecido
A vida, em sua gloriosa e impessoal manifestação
Sempre coloca as coisas em seu devido lugar
Em suas adequadas formas
E suas justas estruturas
E o faz, às vezes removendo de uma pessoa
Tudo aquilo que ela acredita ser e pertencer
Mesmo que nenhum deles seja perenemente verdadeiro.
Hoje, lá fora, o dia está nublado
Mas aqui dentro, a alma brilha livre e resplandecente.
PS: Para citar este Poema:
Cargnin dos Santos, Tadany. O Dia está Nublado, E a alma?.