Gabriel Magalhães Trindade, voltou ao sim depois de um período no Paraná onde atuou como psiquiatra. Estudioso graduadíssimo é altamente capacitado no exercício da medicina agora atua em Pelotas, onde também integra o corpo docente da Universidade Católica daquela cidade. Ariane e Marcos Trindade felizes com o filhote.
Deco – Por que a psiquiatria?
Gabriel – A psiquiatria trata das patologias que alteram o comportamento humano, que causam sofrimento, prejuízo funcional, o sofrimento mais doloroso que o ser humano pode enfrentar: a dor psíquica. O que me motivou a fazer medicina foi a relação médico paciente, e na psiquiatria esta relação ainda é mais próxima, sendo necessário promover uma escuta acolhedora, entender medos, frustrações e angústias, tendo sensibilidade de entender o que não é explícito, entender visões de mundo diferente. Poder ajudar as pessoas com um pequeno gesto de atenção á sua dor, dando suporte técnico no andamento do quadro e levando o paciente a uma situação de bem-estar emocional, que está cada mais difícil na atualidade, foi o que me motivou a esta escolha.
Deco – A pandemia mudou o modo de pensar do ser humano?
Gabriel – A vida não é como era antes, pelo menos por enquanto. Na medida em que a pandemia foi se alastrando, as pessoas tiveram de adaptar seus anseios, hábitos e funções diante do incerto. As pessoas não são mais livres como eram antes. Os abraços foram deixados de lado, os apertos de mão agora soam quase como uma ofensa, há preocupação por toda parte, uns temem seus empregos, outros pelas suas vidas, alguns ainda suportam o temor da perda das pessoas que lhe são queridas. Não é hora de ocultar a verdade, há preocupação e medo em todo lugar. Mas há também coisas boas. De repente as pessoas foram tomadas por um instinto de generosidade e empatia que não se vê com frequência. O apreço, a responsabilidade e o respeito pela vida, a nossa e a do outro, protagonizam a tomada de decisões das pessoas de um jeito nunca antes visto. Curiosamente, em meio a tragédia as pessoas passaram a refletir sobre como suas ações afetam terceiros, e mais, passaram a se abster de fazer o que lhe era conveniente em prol do bem-estar do próximo.
Deco – Qual a chave para uma boa saúde mental?
Gabriel – Gerenciar nossas emoções e cultivar o autocontrole, associado a bons hábitos. Em especial atenção para a resiliência: essa característica é atribuída a determinados processos que explicam a superação das crises e adversidades. Assim como muitas habilidades emocionais, a resiliência não é uma aptidão inata do ser humano, mas pode e deve ser adquirida. Ser resiliente é ter a capacidade de se reinventar mesmo quando ouvimos um não, quando não temos o que gostaríamos e, também, nos momentos em que parece que não há saída para as situações difíceis. O grau de resiliência de uma pessoa depende do quanto ela é adaptável e demonstra prontidão em se superar, mesmo diante dos eventos contrários que possam surgir. Essa competência pode ser trabalhada quando ainda se é criança. Permitir que os pequenos se frustrem, ensinar que algo dar errado ou fugir do que esperávamos faz parte da vida. Estimulá-los a buscar novas saídas e tentar novamente vai garantir que eles tenham uma atitude positiva diante dos problemas. Com isso, certamente, na vida adulta, serão mais seguros e mais bem-sucedidos nos seus relacionamentos e em qualquer outra área de suas vidas.