Para ver as coisas como elas realmente são, é necessário simplicidade de percepção. Ser simples significa estourar a bolha de subjetividade que a pessoa cria em sua mente e, por meio da qual, ela interage com o mundo.
Esta viciada, condicionada e limitada bolha individual impede que uma pessoa objetivamente compreenda o mundo ao ser redor, pois nela estão os medos, as ansiedades, as preocupações, as projeções, os desejos e as fantasias que o restrito conhecimento pessoal desenvolveu durante o seu processo de aprendizado e interação com o mundo. Mesmo assim, o mundo segue seu estruturado e inteligentemente arquitetado processo independentemente da maneira como as pessoas o observam.
A pessoa simples, ao lidar com o mundo, brinda-lhe o direito de ser como ele é, não como ela espera que ele seja. Por exemplo, uma pessoa está passando por um admirável jardim e, ao observar uma flor, ele tende a expandir a natureza floral para despertar nostálgicos ou inspiradores sentimentos.
Então, ao fazê-lo, ela traz à mente algum evento ou projeta algum sonho e, ao realizar esta cognitiva ação, ela concede à flor poderes inspiradores, curativos, tristes ou rememorativos, isto é, ela superpõe na flor as projeções de suas melancolias ou fantasias e, desta maneira, desvirtua a realidade da própria flor.
Mas, independentemente das representações pessoais, a flor continua sendo simplesmente, ou admiravelmente, uma flor.
Por outro lado, isto não significa que a pessoa simples seja incapaz de apreciar a formosura de uma flor. Tal indivíduo entende sua magia existencial, assim como está ciente do fato de que seu conhecimento sobre a flor é infinitamente menor do que aquilo que ele sabe sobre a mesma e, se porventura, ele decide ornamentar poeticamente a flor, o faz ciente de sua prodigiosa harmonia estética que, por natureza esbanjadora, a presenteia com exuberantes atributos, mas quando tão interessante exercício acaba, a ciência do discernimento entre sua subjetiva percepção e a objetiva realidade da flor é lúcida, irrevogável e simples em sua cognição, em outras palavras, após os devaneios criativos, a flor volta a ser simplesmente, ou admiravelmente, uma flor. (Tadany – 03 02 12)