John era um executivo em ascensão, ele morava em Manhatan e gostava de competir com tudo e com todos, pois acreditava que aquela era a maneira pela qual ele tinha sido bem sucedido e, certamente, tal axioma continuaria guiando a sua carreira.
Naquela manhã de novembro, onde o nublado do céu parecia ofuscar o brilho dos olhos e as primeiras ondas de frio congelavam os sonhos e entorpeciam os desejos, ele acordou e ficou, melancolicamente, deitado na cama.
Quando os olhos se abriram, parecia que uma tela de cinema tinha sido instalada no teto do quarto e, repentinamente, sua vida, de casos e descasos, batalhas sem inimigos, audácias sem objetivos, discussões sem noções, vitórias sem conquistas, lucros com solidão e encontros sem amor, entrou pelas córneas, chegou ao cérebro e, quando entrou na circulação sanguínea, levou um fluxo de tristeza, solidão e incoerência ao coração de John.
Então, ao invés de levantar, ele olhou para a direita, depois para a esquerda, com ansiedade e medo fitou novamente o teto, pois receava rever parte daquele pernicioso e revelador solilóquio, suspirou sôfrega e profundamente, virou-se de lado, estendeu o braço, abriu a gaveta da cômoda, pegou o revolver que estava dentro, seu braço tremeu, uma lágrima de dor e de esperança correu sobre os olhos, levou o revolver até a parte inferior do maxilar, mirou em direção à parte traseira do cérebro e puxou o gatilho.
Naquele instante, John conseguiu assassinar tudo aquilo que ele não era, mas acreditava ser, o que havia sido condicionado a construir, mas que não era sua construção e toda aquela falaciosa onda de ilusão que tinha se tornado sua vida havia chegado a uma praia infértil e sem paradeiro onde, desolada e abandonada, ela tinha preferido perecer.
Noutro dia, a manchete do jornal dizia: “Acidente domiciliar tira a vida e a carreira de brilhante executivo”. (Tadany – 19 12 06)