Não gosto de falar ‘no meu tempo’ que parece nos remeter à Idade das Trevas, mas vou falar:
No meu tempo – lá em São Borja – se usava lápis e borracha e eu costumava apontar meu lápis com gilete, que ficava melhor que com apontador; meu caderno de matemática era todo quadriculadinho e, no segundo ano do primário – hoje é o fundamental – a professora disse que, na próxima aula nos tomaria a tabuada.
Como bom aprendiz de asno bocaberta, cheguei em casa e reclamei com a Norma Motta – minha abençoada, iluminada e benfazeja mamãe – que não levaria a tabuada pra escola pois a professora ia tomá-la de mim!
Para os que nasceram depois da morte do Ayrton Senna, tabuada era um livrinho onde havia as quatro operações e outras coisas de cálculo que não lembro.
Me parece que a gurizada, hoje, não tem ideia do que seja um lápis e uma borracha; tabuada nem se fala.
Borracha não é uma mulher bêbada, meninada, era um pequeno objeto normalmente retangular que se usava para apagar escritos com lápis, sacaram?
Foi nesses anos horrivelmente belos que fomos alfabetizados e aprendemos a tabuada, creiam.
Não havia Ctrl+Alt+Del e tevê só em Porto Alegre e Santa Maria. Mas havia as matinés aos domingos, com programa duplo: um filme de romano e uma gauchada com o João Vaine matando índios a balaços de 45.
À noite eu acompanhava com minha avó Cantídia, a novela radiofônica Melodia Sinistra, que era sobre um assassino monstruoso, matava com arma branca, um show! Minha psicopatia incubada aflorava.
Mas era religioso. Em tenra idade – tenra idade parece papo de canibal, não é? – apontei pro quadro na parede e exclamei: A Santa Feia, a Santa Feia!
Esculhambei, por ignorância, a ceia de Jesus e seus pares.
Reminiscências, reminiscências são irmãs da nostalgia e primas da saudade, que moram dentro do coração da gente e, de vez em quando, acordam e saltitam ao nosso redor festejando o passado e nos preparando o futuro.
Um carinhoso beijo no fígado de cada um de vocês, queridos e queridas facínoras.