Minha avó materna, a Cantídia, vivia me dizendo: “Já encheste o pandulho, guri saco sem fundo?”.
Hoje, com 57 anos e sempre um saco sem fundo, resolvi procurar o significado da palavra e descobri que pandulho é tipo saco de areia que serve de âncora ou lastro para barcos, bem parecido comigo.
Lembrei de uma namoradinha que tive na Zero Hora, a Ibraína, morena, cabelos negros, nariz aquilino e lindos olhos vermelhos que nem coelha – como uma coelha, você me mantééém, como diria a Rosana -, uma deusa oriental, meio acidental, considerando que tinha a língua pguesa, sabem?
Meus queridos colegas bandalhos apelidaram-na de Bagulho. Não que ela fosse um; não, não, mas odiava o bagulho das máquinas de escgueveg, aquela bagulheiga, sabem como é.
Ela trabalhava na Redação, no terceiro andar, e eu no porão, nas entranhas do jornal, pra não dizer nos intestinos.
Numa noite daqueles anos 80, minha coelha e eu enchíamos a caveira no Porta Larga – pra quem não sabe, bar ao lado da ZH – e ela confidenciou que não conseguia criar, os textos estavam áridos e nada acontecia. Nessa época estava acontecendo a informatização na Redação. A máquina de escrever estava a um passo do museu.
Me caiu a ficha – naquele tempo era orelhão movido a fichas, lembram? – e matei a charada:
– Gata, será que tu não sente falta do barulho das máquinas de escrever? Aquele tac-tac-tac-plin, tec-tac-tac?
– Puxa, vegdade! O bagulho das máquinas que eu odeio, é isso, séguio!
Era sério, mesmo. Entrar numa redação de jornal, hoje, parece que estás num bloco cirúrgico: silêncio, ninguém fala. Sussurros e suspiros, nada mais.
Saudades daquela velha esculhambação e da Ibraína, é clago!
Carinhoso beijo no baço de vocês, camagadinhas!