Ficou Tão Longe

79
Foto: Miro Bacin

Alguns sonham em conhecer o fundo do mar; outros em navegar pelo espaço. Há, portanto aqueles que sentem uma ligação especial com o trivial. De repente buscamos uma realidade fora de nós mesmos, e onde possamos nos agarrar. Eu procuro observar as coisas com os dois olhos que veem este mundo com bastante lucidez. Mas continuo a excursionar minha mente por outras paragens rebuscando adjetivos capazes de inspirar-me no que escreverei. Aí é que pinta a chamada saudade e eu insisto que ela me fale de infância já tão longe que como a chuva e o vento ficaram tão distantes. Quero que me fale que a vida mansa já não é mais a mesma. Saudade em si me fala que a família está ausente da mesa, a Santa Ceia foi substituída pela samambaia e a correria virou uma peste neste novo tempo. Podes, também saudade, me dizer baixinho onde anda o afeto, o colo dos mais velhos, a palavra de esperança, o estimulo para prosseguir trilhando caminhos. Me fala saudade, que tenho saudade de mim mesmo e da minha própria história. Mas, pensando bem saudade, que importa o tempo sucessivo, se nele houve uma plenitude, um êxtase, uma tarde, um amor? Para o poeta que faz perguntas diretamente aos corações dos que leem, as pequenas memórias que importam foram gravadas na intensidade daqueles momentos. O desfile dos dias e séculos é como um filme estranho, nem sempre do nosso agrado.