Embriagados e Oblívios

41

Eles se emborracham com a mesmice de suas enfadonhas vidas

Elas se drogam com a chatice de suas monótonas conversas

Eles se embriagam com o tédio das cansativas repetições de discursos e ações

Elas se embebedam com as maçantes fofocas e os fastidiosos fuxicos

E juntos, bebem e se drogam porque não aguentam tanta chatice, porque não suportam as previsíveis e maçantes realidades.

Um acordar, sem despertar

Um falar, sem nada expressar

Um pulsar, sem nada sentir

Um ouvir, sem nada entender

Um andar, sem destino para seguir

Um trabalhar, sem significado para produzir

Um olhar, sem nada perceber

Um tocar, sem nada sentir

Um viver, sem vida, vermicida, ferida, batida, dormida

Oblívios da existência, inebriam-se artificialmente

Gestos dormentes

Pensamentos dolentes

Sentimentos descrentes

Manifestações maldizentes

E entre ressacas de dias desperdiçados e arrependimentos de noites não vividas, o tempo segue em seu ritmo invariável, enfastioso, maçante e cansativo.

Numa angustiante espera, que desespera, por aquele fim que a tudo incinera, mas mal sabem eles, que último suspiro nunca exonera, ele apenas exagera e que, igual ao presente, também será descontente, pois em vida eles não escolheram ser protagonistas, mas entre bebidas e barbitúricos, preferiram ser suplentes, indigentes, dementes. (