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Afinal, ser feliz é uma balela?

“Viver é sofrer e a felicidade é um acidente no lapso temporal”. A fria, implacável e inclemente afirmativa tem, vez por outra, me provocado a razão e os sentidos. Confesso não ser adepto à filosofia pessimista de Schopenhauer, mas “livre pensar é só pensar”, como diria nosso glorioso Millôr Fernandes. A questão volta à tona, talvez, quando este sessentão está na iminência de virar mais uma folha no calendário. Um país, o Butão, chegou a instituir a Felicidade Interna Bruta (FIB). Trata-se apenas de mais uma maluquice, ou realmente é possível medir o nosso grau de felicidade? Que bicho de sete cabeças é esse, afinal?

O professor Pedro Calabrez faz sua caracterização. Ser feliz é satisfazer desejos: fazer uma boa faculdade, casar, ter família ajustada, ter bom emprego, viver dignamente… Ele faz, entretanto, algumas ressalvas. Uma: temos dois “eus”, um que demanda as necessidades presentes e outro que contempla ou prospecta passado e futuro. O desafio é garantir o equilíbrio. Lembra, ainda, que nossa trajetória de vida é uma curva em U: até os 30 anos, aproximadamente, tudo vai bem, somos felizes; já dos 40 aos 60, mais ou menos, entramos em colapso existencial; e acima dos 60, havendo saúde e estabilidade material e emocional, volta a sensação de felicidade.

Não sei em que medida esse mundo de agora, de tantos apelos consumistas e ritmo alucinante, nos garante esse perfil. O ideal seria mergulhar no passado, no período antes de Cristo, colocando em prática os ensinamentos da filosofia Epicurista. Contentar-se com poucas coisas, buscar o prazer na natureza e nas coisas simples, tendo como fim principal o bem-estar da alma.

Contudo, buscamos a felicidade, a qualquer preço, mais nas coisas terrenas. Normalmente no supermercado, no magazine, no carro do ano ou na farmácia. Não raro, enfrentamos cinco, seis horas de congestionamento no trânsito, para “encontrarmos” a felicidade na praia. Lá, ficamos quatro horas e, mais estressados ainda, temos de voltar. Com a internet e as redes sociais, a mesma coisa. Só publicamos imagens e frases bonitas (quando bem escritas), retratando aparentes momentos felizes. Queremos “likes”, muitos “likes” e, quando não vêm, vem a frustração. Isso denuncia o quanto estamos carentes e à espera de alguma massagem do ego!

Voltemos para outra escola filosófica da Grécia Antiga – o Estoicismo. A receita, para que sejamos mais felizes, é não brigar com a vida e os fatos. Resignação é a palavra de ordem. Isto porque, segundo esta doutrina, um certo determinismo já tem delineada nossa trajetória existencial. É mais ou menos como diz o compositor e jornalista gaúcho Nenito Sarturi: “Por que a vida em seu galope/ Não dá alce e corcoveia/ E ensina que andando a trote/ A rodada é menos feia”.

A constatação é que no período medieval e até o séculos XIX, devido a menos “necessidades”, a humanidade era mais feliz. Reduzindo à simplificação, penso que a receita para a felicidade – principalmente para nós, ocidentais -, está num ensinamento mais que milenar, como outros anteriormente citados. Este ensinamento, que vara os séculos e segue atual, nos é passado por Jesus Cristo: Amar Deus acima de todas as coisas. E amar ao próximo como a nós mesmos!

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