O Cego

Alguns o chamavam de cego

Pois seus sentidos não eram receptivos a estímulos externos

E ele parecia estar indiferente ao mundo exterior

Mas internamente

No âmago de sua essência

Ele podia sentir o brilho do sol

Ele percebia o explosivo nascimento de novas estrelas

Ele sentia as caudas de cometas em chamas

Ele se regozijava com a sensual feminilidade da lua

E ele identificava a minguante luz de distantes galáxias

 

Para ele

O amor tinha cores que só seu coração poderia expressar

A harmonia tinha sons que inebriavam sua cognição

O carinho tinha formas que acariciavam sua alma

A amizade tinha fragrâncias que deliciavam sua essência

A compaixão tinha energias criadas por sua indelével humanidade

E o entendimento tinha sabores que deleitavam seu cotidiano

 

E a vida,

oohh, a vida

A vida para ele era uma tela que sua cegueira estava constantemente repintando e remodelando.

 

E assim ele era

Externamente, abstraído por natureza

Mas internamente

Ele era infinitamente conectado

Em visões

Em sentimentos

Em expressões

E em essência

 

Mesmo assim, algumas pessoas o chamavam de cego.

 

Como citar este Poema:

Cargnin dos Santos, Tadany. O Cego.

Redação
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