No divã da memória, tentamos esquecer o que não gostamos e lutamos para lembrar o que adoramos.
Atualmente, esta simples dicotomia existencial se tornou uma terapia confusa, desgastante e desafeiçoada pois a sociedade mediática de massa nos faz esquecer que lembrar o natural é importante, ela nos suprime a memória ao abarrotá-la com perecíveis asneiras, ao entulhá-la com temporárias besteiras e ao superlotá-la com desnecessárias baboseiras.
Tal sociedade muda nossas percepções ao incitar-nos a refletir internamente sobre as coisas de fora ao invés de entendermos sobre as coisas de dentro, independentemente das coisas externas.
Ela tenta imprimir o temporário como imprescindível, o efêmero como indispensável e o provisório como fundamental.
Ela nos condena à uma amnésia do essencial, à uma ignorância anestesiada sobre nossas reais naturezas e, ao fazê-lo tão contínua e vorazmente, nos desterra à uma sensação de impotência que assombra e amedronta.
Enquanto isto, no inevitável divã da memória, vagamos desordenadamente tentando juntar os pedaços perdidos pelo caminho, tentando unir os resquícios da natureza individual que porventura lembramos e tentado atar os fragmentos de esperanças que ainda nos impelem a seguir na senda da vida.
A impessoal sociedade de números fraciona a unidade da alma humana, conturba sua memória e a relega à um estado corrompido de consciência existencial, com divãs lotados de sensações frívolas, com memórias fugazes, e de histórias, sem memórias, nem vitórias, muito menos glórias.