Na morada dos meus anseios e desejos infantis guardo alguns porta-jóias empoeirados, esquecidos, escondidos naquela gavetas da nossa alma que temos medo de abrir, sabem como é? Sabem, sim!
E quando nos enchemos de coragem para abri-las, elas saltam na nossa garganta e nos fazem rever amigos antigos, daqueles que iam conosco pra escola batendo as pastas pesadas numa guerra maravilhosa que eu nem lembrava mais e ficaram perdidos nos labirintos coloridos de nós mesmos.
E os amigos confidentes pra quem a gente contava da menina linda, de cabelos longos da quarta série do primário, que não nos dava a mínima?
Não quero mais abrir essas gavetinhas chatas que me trazem o primeiro beijo da primeira menina do primeiro momento da minha vida erótica humana e do primeiro valentão, que me azucrinava no recreio.
Era a época do Exame de Admissão pra passar do Primário pro Ginásio, coisa medieval, muitos de vocês não tem ideia do que foi.
E os Jardins da Infância? Não sei se ainda existem. Aliás, nem sei se ainda existe infância nessa avalanche de tecnologia onde a gurizada não fala e deixa os aplicativos falarem por ela, num diálogo monossilábico que reduz o vocabulário deles em quarenta palavras, no máximo.
Ler um livro impresso em papel é uma tortura. É a geração miojo: tudo deve acontecer em três minutos, creiam!
A namorada deve durar três minutos, a linda e pequena lourinha com cabelo miojo!
‘Beijo carinhoso no estômago de vocês, queridos e queridas medonhas.