Dia de júbilo, hoje! Encontrei meu relógio, queridos compatriotas!
Não é uma máquina sofisticada ou dotada de tecnologia alienígena, não. É apenas um relógio, o meu relógio!
Quando na clínica, lembrava das minhas coisas, meus objetos, minhas lembranças que não sabia quando me juntaria a elas novamente e se as veria, sendo um pouco pessimista.
Aos poucos vou recompondo meu mundo material – que é bem simples, sem muitos ornamentos – e organizando meus medos, desejos, incertezas e paixões nas prateleiras de cima. Nas de baixo ficam os equívocos e pequenos desgostos, desgastados mas vivos, sorridentes, me desafiando.
Assim como o corpo, a alma reaprende a caminhar e desfrutar da independência conquistada de forma sofrida, acompanhada pelo carinho de vocês todos, pequenos e amados meliantes.
Exames, consultas e diagnósticos positivos estimulam minha nova caminhada ao futuro, às portas que esperam ali na frente. Preciso redesenhar o mapa e evitar caminhos muito árduos e acidentados sob pena de não poder saborear a paisagem, que é sublime.
Mas achei o meu relógio, achei mais um pedacinho de mim deixado pra trás no atropelo da ida pro hospital, isso me fez muito feliz, acreditem!
Acho que ficamos mais sensíveis a esses pequenos adereços – que fazem parte do nosso mundo – quando soubemos que foi recusado o nosso embarque para a outra dimensão.
Ficamos mais fortes, menos ousados, mais cautelosos e muito mais atentos às coisas e pessoas que nos cercam. Aprendemos, é isso!