Existe certa unanimidade no viver humano e uma delas é que todo mundo sonha frequentemente, ou com bastante frequência e intensidade, em ser amado, assim como todas as plantas intensamente esperam pela luz do sol as pessoas esperam que o amor bate às suas portas.
Além disso, todas as pessoas sonham avidamente em amar alguém, da mesma maneira que um andarilho extasiado deseja encontrar um recanto para descansar o corpo e refrescar a alma.
Nestes pontos, amar e ser amados, somos todos iguais, todos membros do mesmo íntegro partido, todos adeptos da mesma onipresente religião, todos ativistas do mesmo irrevogável ideal, todos natural e docemente conectados em essência, em transparência e em sapiência.
No entanto, entre a fantasia do sonho e o despertar da realidade, frequentemente existe um espaço, uma penumbra indefinida e imperceptível por onde vagam as flutuações emocionais, os devaneios valorais e as dúvidas comportamentais que, repetidamente, mais separam do que aproximam as pessoas de seus tão sedentos desejos amorosos.
E assim, num lado deste pêndulo irrequieto, instável e incompreensível está a força natural do amor, aquele que se manifesta por plena natureza, aquele que aceita porque é perfeito como deve ser, aquele que se doa porque é abundante em essência, aquele que acaricia porque seus toques não naturalmente suaves, aquele que canta porque possui infindas canções, que sorri porque percebe as graças do ambiente, que dança porque está em sintonia com a orquestra cósmica, que corre porque tem pressa, que grita porque tem um vulcão desperto em seu interior, que geme porque os sussurros revelam mágicos símbolos, que encanta porque é livre, leve e abundante.
No entanto, no outro lado deste agitado, oscilante e inexplicável pêndulo está o amor inventado, o amor dogmatizado, o amor aculturado, o amor socializado, o amor desnobrecido, aquele que é egoísta porque somente vê seus desejos, aquele que é mendicante porque não entende sua própria fortuna, aquele que é violento porque demanda padrões para ser manifestado, aquele que é rude porque enrijeceu seus toques pelo escárnio do abandono, aquele que canta canções monótonas, monofônicas e sonolentas, aquele que não sorri porque é incapaz de perceber a magia da paisagem, aquele que dança rígido e frígido porque se petrificou, aquele que se arrasta porque não tem forças, aquele que murmura confuso porque tresloucou em sua mesquinharia, aquele que geme, não porque busca símbolos, mas porque traz consigo as mazelas de suas absurdas e auto impostas visões de apreciar mais as coisas do que as essências, de admirar as aparências mais do que os valores, de gostar mais das formas do que das condições anímicas. Este lado do amor é miserável na plenitude de sua concepção pois vive em conflito numa desgraçada vida recheada de mentiras, enganos, dúvidas, manipulações, invejas, egocentrismos, crueldades, opressões, constrangimentos, arbitrariedades e tantas outros nefastos, perniciosos e tóxicos pensamentos e comportamentos que formam a base da insanidade existencial do amor limitado, do amor engasgado e do amor corroído que influencia a mobilidade e a expansão da vida.
Oxalá o pêndulo amoroso da vida fosse mais isócrono, com oscilações harmônicas e igualitárias, mas a realidade claramente demonstra a iniquidade dos movimentos porque as pessoas de uma maneira cega, condicionada e submissa se tornaram partidárias do amor limitado, sectárias do amor mesquinho e prosélitas do amor infeliz e, como consequência da copiosa carência individual, as pessoas se tornaram ninjas, gladiadores vivendo num hodierno campo de batalha tenso, intransigente e agreste, prontas para um vergonhoso ataque ou uma indecorosa defesa. Inconscientes de que elas são a batalha, de que suas limitações são a gênesis de seus sofrimentos e de que suas deturpadas visões do amor são a origem dos medos, das brutalidades, das perversidades e das guerras que afligem, desumanizam e destroem o mundo ontem, hoje e sempre. Sempre, sempre, sempre e quando este avarento amor for a unilateral visão da existência individual.
Mas, e sempre existe a possibilidade do mas, do porém, do contudo, do entretanto e do todavia e, neste caso, quando esta mudança acontecer, a poesia não mais será a expressão sublime da idealização amorosa e sim uma quotidiana descrição da vida individual, os romances não mais precisarão de uma trágica perda para ter seu pináculo de afeto restabelecido com a intenção de compensar o dor inicial e, acima de tudo, as viagens em tapetes voadores, os mergulhos em ilhas paradisíacas, os olhares que acalmam e incendiam o coração, os toques que eriçam os pelos do corpo, os beijos que derretem a alma, os carinhos que fazem o corpo flutuar, os suspiros que abrem as portas do prazer e os comportamentos que conectam, que amigam e que libertam a essência humana serão tão corriqueiros, tão triviais e tão espontâneos que na plenitude de suas essências, isto é, em corpo, em mente e em sentidos, o ser humano, a vida e o amor serão uma coisa só, unidos, contíguos e ligados, assim como a vida é ao todo existencial.
E, desta maneira, se manifestará a unanimidade de nossas buscas de amar e ser amado, concomitantemente.
Quando? Aqui e agora, neste momento, no único que existe, no mágico segundo que o coração palpita por essência divina, bate por pulsação física e vive pela simples condição de ser o veículo pelo qual o amor se manifesta.
Enquanto isto, neste exato momento, pare, reflita e responda, em qual lado do pêndulo está o seu amor?.