Existe algo de extraordinário na amizade, pois ela é uma vertente que jorra incessantemente seus amistosos, amparadores, inspiradores e celebradores néctares.
A amizade é como um raio de sol num dia frio, está ali para iluminar tua visão, acalentar amenizar a intensidade do ar gélido, alentar o coração e incentivar a alma para sair de sua cova e desfrutar das belezas do ambiente externo.
A amizade também é como uma brisa nos dias quentes, pois refresca alguma fervente e incontrolável emoção, ventila alguma mesmice que insiste em se estagnar nos pensamentos, desabafa traumas e dores que, vez que outra, insistem em bater à porta cognitiva e arrefece nossas culpas de ignorantes e passados erros.
Ela é, por essência, a plenitude do relacionamento humano, pois carrega consigo excelsos sentimentos de aceitação, de tolerância, de alegrias, de despreocupação e de leveza, assim como extravasa qualidades de empatia, coragem, vitalidade, ousadia e tenacidade.
Ela é como uma glândula que, ininterruptamente, produz as mais fortificantes, curativas e imunizantes enzimas que existem na estrutura sutil humana.
No entanto, comumente, existe uma visão limitada da amizade que, apesar de bela e edificante, restringe o seu campo de atuação.
E qual é esse balizamento?.
Normalmente, somos educados a pensar na amizade sob uma perspectiva relacional externa, ou seja, sou amigo, ou amiga, de alguém e alguém é meu amigo, ou minha amiga e, independentemente de outros possíveis papéis relacionais que possam existir entre as duas partes, como esposo, esposa, pai, mãe, filho, filha, primo, prima, etc. a ideia de que a amizade é um sentimento a ser dado à outrem ou recebido de outros é a predominante visão que possuímos.
No entanto, é importante conceber a possibilidade de que todas as gentis energias, os ilustres desejos, os magnânimos apoios, as benevolentes indulgências e os vigorosos estímulos que compartilhamos com nossos amigos e amigas, também podemos, com a mesma devoção e entusiasmo partilhar conosco mesmo, com aquele inalienável eu que passa 24 horas por dia, 7 dias por semana e 12 meses do ano comigo, ano após ano, década após década, eternamente.
E, neste caso, é importante mencionar que isto não é uma sugestão para a adoção de um estilo egocêntrico ou narcisista de viver, mas sim uma lúcida proposta que visa tornar a vida pessoal mais tolerável e, oxalá, fascinante, pois em muitos casos, se alocássemos a mesma quantidade de amor que utilizamos para diminuir as mágoas alheias,
A mesma quantidade de atenção que concedemos para consolar as tristezas de outrem
Ou a mesma quantidade de criatividade que imaginamos para encontrar soluções para os problemas dos outros,
se destinássemos essa mesma energia para afagar nossas mágoas, para animar nossos desalentos e para inventar fórmulas que nos tirem dalgum temporário infortúnio, estaríamos abrindo portais que transformam intensamente a nossa existência, pois nos tornaríamos grandes amigos de nós mesmos.
E isto, naturalmente, nos brindaria um magnânimo benefício que é o fato de estarmos disponíveis sempre que necessário, a qualquer momento, em qualquer lugar e em qualquer situação.
E, neste amistoso cenário, não significa que abdicaríamos do encantamento de ter amigos, ou amigas externos que compartilhem de nossa caminhada individual, mas sim que neste ilimitado e prodigioso mundo da amizade, estaríamos agregando mais um membro à nossa enriquecedora fraternidade e, ao fazê-lo, estaríamos desmoronando pretéritas e limitantes perspectivas da amizade para reconstruir uma visão mais holística, inequívoca e eminente sobre o ser amigo, ou amiga, tanto dos outros quanto de nós mesmos.
Como citar este Pensamento:
Cargnin dos Santos, Tadany. O Outro Lado da Amizade.