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O gosto por “motas”!

Cheguei a Portugal no mês de setembro de 2019, em fevereiro do ano seguinte começou a pandemia. Nesse tempo, eu dividia apartamento com um colega de mestrado que se tornou um grande amigo, o Marcelo. O ócio e o preço do euro nos fizeram pensar no que poderíamos fazer em meio a um lockdown.

Papo vai, papo vem, lembramos que em Portugal quem tem mais de vinte e cinco anos e a habilitação com categoria B é autorizado a pilotar motos, por aqui ditas “motas”, até 125 cilindradas. Então surgiu a ideia: trabalhar fazendo entrega de comida com uma moto. Pensamos: entregador é a profissão que mais cresce num momento em que ninguém mais pode sair de casa, exceto esses “heróis” que irão garantir a alimentação dos enclausurados.

Pois bem, nenhum dos dois entendia de moto, o Marcelo já havia andado talvez poucas vezes, mas eu jamais, sequer no carona, pois sempre eivado do medo propagado pelas pessoas próximas e, especialmente, pelos informativos acerca de acidentes de trânsito graves. E lá fomos nós, achamos uma Scooter usada, 125cc, bem confortável e a um preço interessante que cabia no bolso dos dois.

Para testar a moto antes de comprar lá fomos os dois, chegou minha vez, o mais próximo de uma moto que andei foi uma bicicleta elétrica, mas não devia ser muito diferente. Lá fui eu enquanto o Marcelo olhava apavorado. Tudo certo! Compramos a tal scooter e partimos para as entregas. A estratégia era a seguinte: em Portugal os estafetas, como são chamados os entregadores aqui, carregam uma bolsa térmica nas costas com a marca do aplicativo de entregas (Glovo, UberEats…), estes nunca eram parados pela polícia para indagação sobre o porque estavam a circular, estando ou não em serviço quando carregavam consigo a bolsa.

Então, confessor que nem sempre estávamos a trabalhar, aproveitamos para conhecer a cidade de Lisboa vazia, andar livremente de moto sem trânsito algum, além, claro, de eventualmente ganharmos alguns euros pelas entregas que auxiliavam nas finanças.

Com o tempo, passei a gostar de utilizar a moto, o trânsito de Lisboa não é tão caótico e perigoso para motos como nos grandes centros urbanos no Brasil. As motos circulam livremente pelos corredores de ônibus (estes aqui chamados de autocarros), estacionam em qualquer lugar e não pagam park (em Lisboa praticamente todos os locais tem parquímetros).

Comecei a tentar pequenas viagens para as praias, mas principalmente para Ericeira onde mora um amigo conterrâneo, o Ítalo, que também veio tentar a sorte além-mar. Há uma serra com alguns curvas e uma vista linda no trajeto até lá entre a montanha e o mar. O vento no rosto, a sensação de liberdade e a adrenalina fizeram aumentar o gosto pelas viagens.

Dividíamos a moto o Marcelo e eu. Foram muitas confusões que fizemos com ela, dois marinheiros de primeira viagem. Com muito pesar, tivemos de vendê-la antes do retorno provisório ao Brasil em novembro de 2020.

Redação
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