Pois bem, estes pensamentos, apesar de serem interessantes e inspiradores, possuem suas limitações e, dentre elas, a mais evidente é o fato de que eles desconsideram as flutuações naturais da vida humana, ou seja, ignoram o fato de que na vida encontraremos percalços, passaremos por períodos desfavoráveis, enfrentaremos perdas, cometeremos equívocos absurdos, tomaremos decisões erradas, tentaremos sabotar os nossos próprios progressos, desperdiçaremos impensáveis oportunidades e tantas outras situações que transformam o quotidiano num pêndulo que ora está no lado da alegria, da abundância e do amor, mas também outras vezes está no lado da tristeza, da carência e da solidão.
Além disso, o consequente e questionável impacto daquelas premissas, a da elevação ininterrupta e a da existência sem defeitos, é que ela não nos prepara para as falhas, para os fracassos e para as derrotas da vida, algo que é inevitável, pois nem sempre teremos tudo o que desejamos ou alcançaremos tudo o que sonhamos.
Ademais, elas criam uma errônea demanda de que, necessariamente, temos que estar sempre em crescimento, sempre em aumentos e em melhorias e, não apenas ascendendo, mas também evoluindo de uma maneira imutavelmente correta, rigidamente excelente e rigorosamente esmerado.
No entanto, como sabemos que a vida é repleta de flutuações, de transições e de transformações, as quais seguem um vetor tanto ascendente quanto descendente, tanto próspero quanto adverso e tanto edificante quanto arruinador, é importante que o nosso processo educacional e de desenvolvimento também nos prepare para os momentos onde não conseguiremos aquilo que estamos buscando, onde alguém chegará antes do que a gente no destino desejado, onde a fortuna baterá na porta de outro e não na nossa, onde o amor de repente desaparecerá, onde a promoção irá para outro colega, onde a pessoa que amamos ame outra pessoa, onde uma mudança política econômica nos deixará sem a renda mensal, onde os medos podem bloquear nossas ações e infindas outras situações que possuem algo em comum, isto é, não temos o que queremos.
E por que isso é importante? Porque em essência, se não conseguimos contemplar a possibilidade de falhas, de perdas e de insucessos, jamais desenvolveremos a robustez emocional, o vigor psicológico e a criatividade intelectual tão necessárias para nutrir uma saudável autoestima, uma convicta autoconfiança e um sublime amor-próprio, os quais são as impávidas energias que nos mantém nadando firmes e confiantes nos rios da vida mesmo que a correnteza, em alguns momentos esteja nos desfavorecendo.
Por outro lado, é importante ressaltar que este pensamento não é uma crítica à melhoria constante e nem uma censura à busca da ideia pessoal de perfeição, muito pelo contrário, acredito que elas são imprescindíveis para o melhoramento individual e coletivo, no entanto, é importante também entender que na dualidade da existência a moeda também possui outro lado que, se não soubermos de sua existência, quando ela aparece ficamos acuados, apáticos e assustados.
Em outras palavras, se aceitarmos que o pêndulo da vida às vezes gira para um lado contrário do qual esperávamos, temos o poder de desenvolver as qualidades, as capacidades e a atitude necessárias para seguirmos inabaláveis nesta breve a fascinante jornada humana, onde a teoria da evolução contempla as flutuações de nossas ascensões e a ideia de perfeição aceita as doces irregularidades da obra-prima que nascemos para manifestar.
PS: Para citar este Pensamento: Cargnin dos Santos, Tadany. Teoria da Evolução. Teoria da Perfeição, ou da Confusão.