Liderando a pasta da Educação desde 2017, o Secretário João Carlos Reolon tem sido decisivo para guiar as escolas municipais durante a pandemia. Nesta semana, ele recebeu esta coluna para explicar como a COVID-19 está afetando o sistema de ensino e também os profissionais de educação.
Deco – Em tempos de pandemia, como está o setor educacional em São Borja?
Reolon – Nossas escolas permaneceram em atividade, mesmo à distância e em condições adversas. Ao longo do último ano, nossos professores vêm buscando se reinventar didaticamente e também interpretar as maiores necessidades dos alunos para além do currículo pedagógico diante do contexto extremo que vivemos mundialmente. Com um trabalho organizacional de serviços e apoios em ação, a assistência se dá também no plano material e afetivo, que o momento grave está a exigir de todos nós.
Estamos diante de um período de permanente reinvenção e aprendizado. É perceptível que não se trata de uma tarefa fácil, estamos trabalhando coletivamente há mais de um ano, juntamente às Universidades, a UNDIME, UNCME, CME, Secretaria de Saúde e 35° Coordenadoria de Educação. Contudo, nossos educadores têm se empenhado para que os nossos estudantes disponham de uma assistência pedagógica que possa suprir as suas
demandas essenciais, enfrentando o grande desafio de compensar a ausência de aulas presenciais.
A Educação não será a mesma depois da pandemia e nós precisamos ter clareza do nosso determinante papel para construir a Educação futura, num país em que a nação ainda não reconhece adequadamente a importância da educação escolar, o que torna o trabalho ainda mais difícil e desafiador.
Deco – Qual a situação para um provável retorno?
Reolon – Apesar das reconhecidas dificuldades que são enfrentadas por todo o sistema educacional, as nossas escolas municipais estão equipadas e preparadas para o retorno às aulas presenciais, quando o cenário permitir. O nosso Plano de Retomada das Atividades está aprovado do Comitê Municipal de Crise, assim como o Plano de Contingência de cada escola já está aprovado pelo Serviço de Vigilância em Saúde, e as equipes de trabalho já possuem conhecimento destes documentos que nortearão o funcionamento das escolas da rede Municipal. Todas as nossas escolas receberam Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os alunos, professores e servidores de apoio.
Deco – Quais são, no momento, as principais dificuldades enfrentadas pelos professores?
Reolon – Uma das principais dificuldades entre nós (assim como em outros municípios) é o uso da internet como instrumento de acesso pelos alunos às aulas programadas. A utilização das tecnologias digitais ainda é um fator limitador a ser superado. Com a impossibilidade legítima da realização das aulas presenciais existe ainda a frustação da inviabilidade de implementar integralmente os planejamentos curriculares programados.
Deco – Como está sendo medido o desempenho dos alunos através das aulas remotas?
Reolon – As escolas não deixaram de assistir e desafiar seus alunos. Estes recebem regularmente atividades pedagógicas, desde abril de 2020, e a avaliação de desempenho está sendo feita. Há ainda a “busca ativa” que é uma alternativa utilizada pelas escolas para manter o vínculo com as famílias e os estudantes. Sabemos, contudo, que esta metodologia não se compara ao processo ensino-aprendizagem presencial em sala de aula.
Deco – O senhor acredita que a falta das aulas presenciais irá afetar na aprendizagem dos alunos?
Reolon – Com certeza! As aulas não presenciais não são análogas as aulas presenciais, mesmo com o total empenho dos professores em atender à demanda de ensino-aprendizagem dos alunos. Os reflexos do contexto atual serão vivenciados pelos próximos anos, onde buscaremos a superação da possível defasagem de aprendizado dos alunos durante esse período de suspensão das aulas.
Um dos grandes questionamentos dos educadores é “como será a Educação nos próximos anos?”, pois os prejuízos na aprendizagem dos alunos são enormes, sobretudo na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental, fase de alfabetização dos alunos. A ausência da presença do professor faz toda a diferença na aprendizagem, e as condições heterogêneas dentre os alunos (sociais e emocionais) são outro fator adverso.
Daí a necessidade de uma avaliação diagnóstica para a construção de uma Matriz Curricular que, mais adiante, possa atender às demandas de aprendizagem e evitar maiores consequências, como eventual evasão. Além disso, há prejuízos à saúde mental das crianças, ainda incapazes de compreender toda a situação que muda suas
rotinas.
Deco – Qual o programa de atividades que sua pasta vem adotando no momento?
Reolon – Iniciamos o Ano Letivo de 2021 participando da palestra virtual “Os desafios para a educação 2021” – ministrada pelo especialista Jackes Reck, onde nosso quadro de professores usufruiu de um momento de conhecimento, reflexão e motivação para os desafios pedagógicos e didáticos que encontrariam nas escolas para o ano letivo que iniciava. Estão sendo promovidas reuniões periódicas com as equipes diretivas, com suporte técnico para a implementação de Planos de Contingência e Plano de Retorno as Atividades. Já os professores recebem permanentes reforços pedagógicos, inclusive para a melhor utilização das ferramentas tecnológicas e formações continuadas em parceria com a Universidade Federal da Fronteira Sul.
É relevante também destacar que para as escolas do interior, a SMEd está fornecendo transporte escolar para que as atividades programadas sejam entregues para os alunos.
Deco – Os professores já foram vacinados?
Reolon – Infelizmente, não! Entendo que, diante da decisão judicial que torna o ensino na rede pública e privada atividade essencial no Rio Grande do Sul, é fundamental que se priorize a proteção de profissionais da Educação. A antecipação da vacina para os professores é um fator que pode ser determinante para a retomada das atividades presenciais.
Deco – Trace um paralelo da pandemia e a Educação.
Reolon – Penso que todos nós estamos diariamente nos adaptando e buscando superar as muitas dificuldades encontradas, e certamente o cenário pós pandemia não será o mesmo cenário que vivíamos antes dela. Um dos ganhos trazidos pela pandemia é que, nós educadores, de modo geral, desempenhamos intensamente a pedagogia do aprendizado e do trabalho conjunto, que envolveu Universidades, a União Nacional dos Dirigente da Educação Municipal, União Nacional dos Conselhos de Educação, o Conselho Municipal de Educação, a 35° Coordenadoria Regional de Educação e a Secretaria Municipal de Saúde. A nossa expectativa é que quando vencermos a pandemia, sigamos trabalhando pedagogicamente em conjunto e de forma humanizada, buscando sempre proporcionar aos nossos alunos e comunidade escolar – um ambiente de acolhimento e um ensino escolar de qualidade, para que nossos alunos possam desenvolver sua aprendizagem plenamente, tornando-se indivíduos preparando-os para o exercício da cidadania.