Ele acordou sem sono, tinha vontade de levantar, um intenso desejo de sair da cama, mas algo lhe prendia, havia um magneto irresistível e aterrorizador. A desgraça tinha caído sobre sua psique tão intensa e voraz como a lava ardente de uma explosão vulcânica. E tal desgraça tinha um nome, chama-se dúvida. Ela havia chegado um pouco mais tarde, a aparência estava distinta, o olhar mais brilhante, o trejeito um pouco indiferente, o beijo foi mais curto e seco, o abraço foi distante e a conversa foi monossilábica. Ele sentiu-se um extra num filme que estava acostumado a ser protagonista e, ao perder seu papel principal, os alarmes de sobrevivência da espécie dispararam no meio da noite. Então, no silêncio amedrontador da escuridão noturna, seus olhos esbugalhados inventavam fantasias enganosas, sua respiração curta tentava encontrar uma explicação para a situação atual, seu irrequieto coração latejava sons de traições extravagantes e suas pernas jaziam letárgicas frente ao desesperador inferno das hipóteses, ao exagerado tumulto emocional de suspeitas questionáveis. Cada segundo era uma eternidade em sua surreal e noturna dor. Naquele turbilhão de pensamentos, às vezes a certeza de uma traição parecia um relaxante alívio em comparação com os pavores da dúvida. Enquanto isto, ela dormia um sono leve e descompromissado, daqueles que são livres das sôfregas respirações que afligem os sonos infiéis, ela respirava com a branda tranquilidade de um sono natural. Mas ele seguia irrequieto, preso por temores e tremores que não conseguia controlar, muito menos explicar. Logo, o sol apareceria pela janela e traria um novo dia, um amanhecer com novas perguntas, provavelmente sem respostas, de uma vida que não era só dele e que nem ele sabia se ficava ou continuava, pois a desgraça da dúvida, havia batido à porta de sua imaginação.
A Dúvida de uma imaginada Traição
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