Pensei que elas eram minhas companheiras porque me visitavam com frequência.
Uma era a tensão mental, vinha sempre soberana, jeitosamente avassaladora, sensualmente dominadora. Quando ela chegava, nublava tudo ao meu redor, pois clamava por atenção personalizada, assim como demandava todas minhas percepções e sensações.
A outra era a frustração. Esta era meio fúnebre, um pouco cabisbaixa, entrava sempre de mansinho, meio tímida, mas quando passava, em seu caminho deixava um enlameado rastro lúgubre, meio pútrido, meio pestilente, mas intenso e ardente.
A terceira era a insegurança. Ela aparecia sempre de repente, como um raio no firmamento, adorava dar surpresas e, quanto chegava, parecia uma inquisidora, pois gostava de questionar e de fazer afirmações que destruíam todos os pilares de minhas convicções e certezas. Inquestionavelmente, entre todas elas, a insegurança era a mais talentosa e persistente, pois não abdicava de seu limitador objetivo até alcançá-lo.
Então, certo dia, quando estava quase concluindo que havia sido afortunado por ter estas três vigorosas e majestosas amantes, recebi outra inesperada visita, ela entrou de mansinho, tinha uma aparência confusa, mas andava com leveza e altivez, seus movimentos pareciam inentendidos apesar de serem estruturados e precisos. Ela aprochegou-se, sentou-se ao meu lado e, sem pestanejar, de uma maneira serena, íntegra e implacável, contou-me a história da vida daquelas companheiras que estavam se apoderando de minha essência.
As três, que ao meu lado ouviam a narrativa sobre suas próprias existências, calma e paulatinamente foram desprendendo-se de mim, despregando-se umas das outras até que partiram, cada uma para o seu próprio destino.
De repente senti-me livre e leve e quando olhei para o lado, a poderosa visita também estava partindo, mas ainda tive tempo de descobrir que ela era apaixonada por contar histórias.
Então, desde aquele primeiro sublime momento, ela tem sido cortêz o suficiente para visitar-me com frequência. Já não a percebo como confusa ou inentendida, mas sim, como articulada e esclarecedora. Na verdade, confesso que estou apaixonado por ela. Espero que um dia ela aceite minha proposta, pois sonho como seria fascinante passar o resto da minha vida ao lado da sabedoria. (Tadany – 01 06 11)
Confira a versão em áudio no link: www.youtube.com/watch?v=ncK1bkkzJrQ&t=1s&list=PL5TdUsHlc8pPNSXBXWJxumsufjBTfG7fD&index=38