Há pouco conversava com um amigo sobre os ruídos que deixamos entrar nas nossas vidas e como lidamos com essas coisinhas muitas vezes enjoadinhas.
Tempos atrás, saía do trabalho e deixava lá os telefones, ramais e seus gritos laborais até o outro dia. Hoje, eles vêm comigo e nem no banheiro me deixam em paz.
Quem nunca foi interrompido durante um momento íntimo daqueles de tirar o fôlego e a porcaria do artefato começar a te chamar, prenunciando bronca, hein?
Pior se o numero for o da patroa, seu cafajeste!
Aí temos o bi-bi-bi do microondas, a campainha da porta e o porteiro eletrônico te pedindo um pratinho de salmão ao molho de alcaparras que tu não queira mais.
Se o celular fala, a buzina do demente atrás de ti urra, lembrando que o sinal abriu, seu bocaberta! Se pensarmos com serenidade – sim, é possível, mesmo sóbrios – somos verdadeiras muralhas intransponíveis de sanidade, perceberam isso?
Toda a vez que se inicia um novo ano penso em fugir dessa demência diária à qual fui amestrado desde a mais tenra idade – parece papo de canibal – e me adequei numa boa, salvo alguns pés-na-bunda de moçoilas voláteis e uma que outra rejeição por parte de moçoilas não tão voláteis assim.
Fugir talvez não, mas ficar olhando de longe essa divertida esculhambação numa casinha lá longe, sem o risco de estacionar um chevetão amarelo rebaixado tocando “tchutchuca levanta a perninha, tchutchuca vou comer tua baranguinha” e outras pérolas do tipo.
Enfim, estou entrando no quinquagésimo oitavo ano de vida e nunca sei o que dizer pros amigos além do clássico ‘Feliz Ano Novo!’ mas vou tentar traduzir o que meu coração tenta, me puxando o braço que nem criança querendo mais uma fatia de bolo.
Gostaria que a natureza fosse mais generosa com os excluídos. Com os excluídos emocionais, aqueles que não tem sensibilidade, que não foram agraciados com a tolerância e o amor aos semelhantes; com os insensatos que passam por cima de muitos para afirmar sua insignificante arrogância. E àqueles que pensam que dinheiro é o fim e não o meio para se chegar a algum lugar.
Acho que ainda não agora, mas futuramente vou querer aquela casinha pintada de azul lá no fundo do campo com cachorros e alguns patos na beira daquela lagoa ali do lado. Se tiver algumas ovelhas e bergamoteiras não fico brabo.
Um abração e que sejamos melhores pra nós e, consequentemente, pros que nos cercam.
Obrigado por serem meus amigos e amigas, vocês são demais!
RUÍDOS
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