PRODUÇÃO LOCAL

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De onde vêm os produtos que consumimos? Onde compramos, quem transporta, quem produz, quem distribui? Pensei nisso um dia desses a propósito do leite. Li um artigo falando muito mal do leite longa vida, dos aditivos químicos, da toxidade da embalagem, etc. Embora não seja especialista, sei que há leite de excelente qualidade produzido em São Borja. Esse leite é vendido para empresas de outros municípios, anda centenas de quilômetros para ser beneficiado, embalado, e depois retorna por mais centenas de quilômetros e chega até nós menos nutritivo e mais caro, nas prateleiras dos supermercados.

Não faz nenhum sentido. O produtor ganha menos, o consumidor paga mais, o produto é pior. Há um custo ambiental enorme considerando o transporte, a embalagem e o processamento necessário para que o produto dure. E assim acontece com outros itens: frutas, verduras, carnes, e mesmo produtos industrializados que poderiam ser processados aqui. Produzimos leite, mas compramos embalado de outros lugares, assim como queijo e derivados. Produzimos carne, mas a que consumimos vem de longe, assim como os embutidos, cortes especiais, carne embalada. Produzimos grãos, mas além do arroz, qual outro cereal é beneficiado aqui para consumo humano?

Sei que já existem iniciativas e projetos em andamento para incentivara produção local em nosso município, inclusive na agroindústria do leite. Alguns produtores e empresários, mesmo com dificuldades, conseguem manter seus negócios, como é o caso de frigoríficos, da feira do produtor, do mercado público, entre outros. Mas a realidade é que a estrutura econômica atual dificulta a existência de empresas, indústrias e estabelecimentos que produzam e comercializem alimentos localmente. As exigências legais, sanitárias e fiscais, são quase as mesmas para empresas grandes e pequenas, e desestimulam os menores, que tem menos capital e não tem economia de escala. Isso concentra a produção, e tem um custo enorme para a sociedade, piorando a renda dos produtores, encarecendo os produtos, deixando menos recursos circulando no município, gerando impacto ambiental com transporte e, ainda, oferecendo aos consumidores produtos de menor qualidade. Acho que é hora de repensarmos esse modelo.Se não podemos alterar o funcionamento da economia como um todo, podemos, localmente, iniciar uma mudança.