35 ANOS

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Vivemos “tempos líquidos” diria o filósofo Zygmunt Bauman, falecido no ano passado. Em sua obra ele fala sobre a efemeridade das relações, sobre nossa dificuldade em construir e manter laços afetivos, sobre a forma como a vida foi se tornando descartável. Estamos conectados, mas solitários. Queremos companhia, mas temos medo dos vínculos, da convivência, das dificuldades. Não temos paciência, tolerância, persistência. Tudo muda e se apaga muito rápido. Fica apenas o vazio.

Claro que a vida é dinâmica, tudo está em constante movimento, ainda assim, relacionamentos e conexões são fundamentais para termos identidade, para darmos significado à nossa existência. As relações humanas são a parte mais complexa e necessária das nossas vidas. Infelizmente, nesse nosso “mundo líquido”, permanecer é para poucos. Conviver anos com as mesmas pessoas, cultivar as mesmas amizades, manter os mesmos contatos não é mais tão comum. Resistir por um longo tempo na mesma profissão, empresa e atividade é cada vez mais raro.

O que dizer de um profissional que mantem uma coluna de jornal por 35 anos? Certamente esse feito é para muito poucos. Escrever com frequência mais que semanal é um desafio, manter uma coluna atualizada também. Conviver socialmente, encontrar-se, conversar, saber notícias, ouvir histórias, relatar afetos, vivências e expectativas, é mais que um desafio, é uma arte. Não é para qualquer um. Por isso parabenizo meu amigo Deco Almeida pelo sucesso de sua coluna, por sua persistência e comprometimento como narrador da nossa vida social. Fazer parte da história de uma comunidade deve ser motivo de orgulho, ajudar a escrever essa história é um grande mérito. Parabéns Deco, que venham muitos outros anos de sucesso!